Muitas pessoas reclamam de seu destino, pelo fato de não terem sido contempladas com um grande e definitivo amor. Mas a realidade é que um grande amor é fruto de sua maneira de existir.
Amar, jogar xadrez ou cozinhar. Qualquer atividade tem três fases, em seu processo de aprendizagem: a primeira é a da falta de consciência. Realizamos uma ação pelo prazer de realizá-la, sem nos importarmos com o nosso aprimoramento. Começamos pensando que já sabemos muito. No caso do amor, acreditamos que já amamos bastante, que já nos entregamos. Nem bem começamos e já nos consideramos mestres no amor. E quanto mais alguém pensa que já sabe amar, menos ele conhece sobre o amor.
A segunda é a fase do esforço consciente. É a fase da aprendizagem propriamente dita, quando descobrimos que não sabemos nada... ou quase nada. Então, traçamos um objetivo e queremos aprender o máximo possível. É a etapa da técnica, do treinamento metódico para atingir um determinado fim. No amor, é necessário desenvolver um treinamento para viver junto a alguém (treinar diálogos sem manipulação, treinar sair para dançar, divertir-se, treinar relações sexuais satisfatórias, treinar estar com os filhos sem ficar pensando em sair ou dar telefonemas etc.).
A terceira fase é a da sabedoria. É quando não existe o “eu” nem o “tu”, mas a comunhão do momento; quando não há homem nem mulher isoladamente, mas o “nós”. É o momento em que o encontro se torna o mais importante. É a etapa que transcende as individualidades, levando-as à plenitude.
O ato de amar só pode ser desenvolvido com disciplina, humildade e coragem. Nós já nascemos sabendo amar, mas desaprendemos essa habilidade e por isso precisamos aprender a começar do zero todos os dias, como verdadeiros aprendizes do amor. É como respirar — ninguém precisa aprender a fazê-lo. Depois de tantas repressões, os “pulmões” do amor ficam atrofiados. Então precisamos aprender a amar novamente. E, para aprender a amar bem, precisamos de um trabalho cuidadoso e da consciência do quanto amamos mal.
Muitas pessoas agem como se soubessem, perfeitamente, como se ama. O que não deixa de ser verdade! Esse tesouro está guardado dentro de cada um de nós; mas para alcançá-lo é preciso, com humildade, unir disciplina e carinho, e realizar nossos atos de amor como se conhecêssemos pouco deles. Quando precisa desativar uma bomba, mesmo um grande perito em explosivos age com extremo cuidado e precaução, como se nada conhecesse daquele artefato. Sabe que um gesto precipitado pode acabar com tudo.
Uma postura interessante para lidarmos com o assunto, é a de pensar que já sabemos alguma coisa sobre o amor, mas que o melhor será começar a aprender de novo.
Nós aprendemos a demonstrar nossa afetividade expressando as nossas sensações em relação aos nossos pais. Tivemos, como modelo, a maneira com que eles expressavam o seu carinho e o seu amor por nós. E crescemos, muitas vezes, sem dar-nos conta de que crescemos, e de que a pessoa amada não é mais mamãe nem papai, que foram os nossos mestres nas primeiras lições afetivas.
Saber amar é estar atualizado com os próprios desejos, com os desejos do parceiro e com a maneira mais adequada e especial de concretizá-los. É estar disposto a ingressar outra vez na escola do amor, sem medo de descobrir que, como dizia R. D. Laing, “o que pensamos é menos do que sabemos; o que sabemos é menos do que amamos; o que amamos é muito menos do que existe; e nesta concreta extensão, somos muito menos do que somos.”
Roberto Shinyashiki
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe aqui o seu comentário